A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO

Todo som, toda a música, qualquer barulho vem a posteriori do silêncio. O silêncio, precede qualquer som. Há uma importância fundamental no silêncio ao qual não nos damos conta.

Pense num filme clássico onde os poucos segundo de silêncio foram decisivos numa determinada cena. Ou naquela música, antes do refrão avassalador, onde o artista faz a aquela pausa silenciosa que dá sentido ao verso seguinte. No momento a sós com a pessoa que amamos e, de repente, vem o silêncio, dotado de sentimentos variados.

Mas, como o silêncio se aplica numa situação social, no coletivo?

O desejo de falar, de fazer barulho e se manifestar tornou-se parte da atual sociedade da informação, tendo como suporte as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC). Só fica calado quem quer. O direito de opinião e expressão está ao alcance de todos. Forma-se assim uma cacofonia confusa, agressiva, de pouco diálogo, mas de muita expressão.

Todos querem falar, mas, quem de fato quer ouvir? 

A crise político cultural do momento vem instalando um estado hobbesiano de "todos contra todos". Todos falam, ninguém se entende. Sentimentos e opiniões confusas, pautadas por um imediatismo perigoso e violento.

Mas, o que fazer nessa situação?

Como no romance de Saramago, precisamos ter olhos quando ninguém mais enxerga, mas, principalmente, conseguir de fato ver adiante do que os outros olhos (cegos) veem. 

É nesse sentido que o poder de observação se faz necessário. Assim, o silêncio torna-se elemento de suma importância numa sociedade onde o barulho assume status de sabedoria.

Dirão alguns que isso seria comodismo, uma atitude blasé, um "ficar em cima do muro".

Não! Pois, a maneira mais eficaz de desqualificar um discurso é submete-lo às discussões onde ninguém de fato quer ouvir ou aprender. Todo argumento vira pastiche, retórica sem fundamento, conversa de boteco. No ambiente das discussões calorosas ganha o debate quem grita mais alto.

Assim, em tempos onde as redes sociais estão repletas de debates calorosos, a grande revolução está no silêncio e na capacidade de observação de alguns poucos, que realmente podem fazer algo para mudar a situação.

Ademais, o que resta é lamentar o coro da massa ignorante. 


* DICAS *

- Música: O Silêncio
- Artista: Arnaldo Antunes

Arnaldo Antunes consegue transformar ideias em poesia e poesia em música. Aqui, ele fala da importância do silêncio para a existência do som e da canção, como numa espécie de tábula rasa a espera de formas significativas.



Música: So What

Artista: Milles Davis
Um clássico do antológico álbum de 1959, Kind of Blues. Nessa música, há um diálogo inicial entre cada instrumento intermediado por milésimo de segundos de silêncio. Os espaços silenciosos da música é que dão sentido ao todo. Basta escutar com o silêncio da alma para perceber.

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